No homem, o desejo gera o amor. Na mulher, o amor gera o
desejo.
(Jonathan Swift.)
Frente a afirmações sexistas como
esta, amante que sou daquilo que considero a “boa MPB”, me reporto imediatamente aos belos
versos de Chico Buarque: "O
delegado é bamba na delegacia, mas nunca fez samba e nunca viu Maria."
Expressões como esta ganharam o mundo e o
status da verdade. Contidas em importantes registros literários, alardeadas nas
conversas de botequim, em cenas do dia a dia, ou ainda inscritas na ordem do
silêncio, trazem consigo a pergunta: o que seus autores sabem e sentem sobre
Maria?
Recentemente tive o prazer de assistir
o show de Chico Buarque no Rio de Janeiro. Ve-lo interpretando algumas de suas
belíssimas composições, falar sobre o espetáculo, sobre sua sonoridade, sobre
as subjetividades de amores públicos e confessos em suas canções, foi a tônica
que acompanhou por alguns dias, os papos com os amigos.
Um amigo espírita afirma que
Chico já foi mulher e por isso fala com desenvoltura deste lugar. Outra amiga
afirma - ele será mulher! Para ela,
Chico está em fase de evolução espiritual.
Tendenciosidades de gênero à
parte , o poeta tem certamente uma grande familiaridade com a alma feminina,
não temendo em dar voz e expressão a seus afetos e desejos. Promove encontros
com sua contra-parte feminina e responde a sua própria ânima, ao seu eu lírico
feminino, projetando sobre nós a
erotização dos encontros amorosos entre o ciclo de relações homem-mulher-mulher-homem em arquétipos do
feminino e do masculino presentes em todos nós.
Nós, mulheres, ouvimos Chico e
ele sempre parece saber. Sim, Chico
parece saber.
Esse cara com seus olhinhos infantis, essa figura pública, apesar
de masculina, sabe ler como ninguém as entrelinhas dos
fluxos e refluxos dos nossos desejos. Ele parece entender o
arrastar de nossas asas e o acender do nosso fogo, mesmo quando de palha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário